terça-feira, 27 de julho de 2004

Amo-te

Tenho este texto no meu outro blog. mas estou a pensar em desactivá-lo.  Assim sendo, aqui vai.

Amo-te A chuva parou de cair lá fora. Mas o frio entrou no meu quarto e teima em não partir. Penso em ti. No teu cheiro. No teu corpo a roçar no meu. Nas tuas mãos esguias. Na tua língua quente. Faz já algum tempo que foste embora. Mas a tua alma percorre o meu corpo em arrepios. Era tão bom. Guardo agora em mim a prova do nosso amor e um pouco de ti. Possa este pedaço de vida fazer-te viver para sempre. Tudo começou naquele dia de outono. Tu caminhavas. Passos longos e ordenados. Tac tac tac tac. Era muito bom saber que estavas a chegar. E ias entrar em casa. Dar-me um beijo. Eu tb caminhava. Os meus passos nunca foram como os teus. Curtos e sem ritmo. Como eu gostava de caminhar para ti. Era um dia típico de Outubro. As copas fechadas das árvores deixavam mostrar algumas nuvens cinzentas. O chão estava coberta de folhas secas douradas. Ambos adorávamos ouvir o som do tchac das folhas sob os nossos pés. Tantas vezes rebolámos nelas. Quais crianças que rebolam na areia num dia feliz de verão. Começou a chover. Era tão bom estar contigo debaixo da chuva. As pestanas molhadas, entrelaçadas. E nós a dançarmos, abraçados. A roupa fina colada ao corpo. Abrigámo-nos sob o mesmo carvalho. Foi a primeira vez que nos vimos. Os teus cabelos molhados pingavam na tua face. A água nos teus lábios reflectia a luz dos candeeiros do parque. Como amo ainda os teus lábios. Nos meus lábios, nas minhas costas, nas minhas pálpebras. Estavas mais lindo que nunca. Arrepiei-me. Um relâmpago brilhou no céu. Disseste 'venha'. Estendeste-me a mão e eu agarrei-a sem hesitar. Começámos a correr. Nessa altura eu não sabia que corria para o amor. Com a minha mão na tua era como se não houvesse mais nada. Abrigámo-nos numa gruta, onde estava um santuário. Estavamos encharcados. Olhámos um para o outro. Desatámos a rir. Era tão bom rirmo-nos juntos. Fazíamo-lo muitas vezes e, em cada uma delas, eu tinha a certeza que eras tu. Até ao fim. Parou de chover. Eu agradeci e despedi-me de ti. Passou muito tempo até voltar a ver-te. Voltei muitas vezes àquele parque, talvez na esperança de te encontrar, ainda que não soubesse para quê. Mais tarde contaste-me que também foste lá muitas vezes à minha procura. Quis a terra que não nos encontrássemos...

...Até àquela noite de Outubro.
Era de noite. Estava à beira do lago a olhar para o reflexo da lua cheia. O mesmo lago e a mesma lua das nossas noites de poesia e de beijos. Levantei o olhar na tentativa de ver o rosto que se espelha nas águas mortas do lago. E lá estava ela - calma e serena. Tornei a olhar para o seu reflexo no lago. Assustei-me. Foi o teu reflexo que eu vi. Ainda hoje volto ao mesmo lago na esperança de te ver. Pediste-me desculpa, disseste que não pretendias assustar-me, que estavas de passagem. Que viste o reflexo da lua no lago e quiseste ver mais de perto. Como resistir ao teu olhar? Naquele momento percebemos que nos conhecíamos. Não dissemos nada. Sentaste-te a meu lado. Ficaste até ao nascer do sol. Como era bom passar todas as noites a teu lado... Combinámos encontrarmo-nos naquela noite. Era incrível a capacidade que tínhamos de nos atrasar. Chegaste. Um vulto negro numa noite clara. Deste-me a mão e caminhámos sem rumo. Perguntaste-me o nome, disseste que era lindo. Apesar de ambos sabermos que era só um nome. Adorava que me sussurrasses ao ouvido. Voltámos ao santuário onde nos tínhamos abrigado na primeira vez. Demos no nosso primeiro beijo, abençoado. Como eram bons os nossos beijos. E ficámos ali, abraçados. Do que sinto mais falta são dos teus abraços. Conversámos a noite toda. Sinto tanta falta das nossas conversas. De como nos apoiávamos. De nos rirmos. De passarmos as noites em silêncio. Disseste que eu era linda. E eu sabia que eras tu que me tornavas linda. Transbordavas beleza e amor. Emanavas amor por cada poro do teu corpo. Foram tantas as vezes em que não adormeci, só para sentir o teu corpo ao meu lado, perto de mim. Muitas vezes acreditei que o brilho da lua vinha do reflexo do teu brilho nela. Como resistir a um brilho assim? Estrela filha de uma estrela maior. Brilhavas com o brilho resplandecente do amor. Amei-te. Ainda te amo.
 

 

1 comentário:

Rita disse...

Lindo!